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OPINIÃO: O cínico, o ignorante e o burro

O cínico pensa de uma forma, mas fala e age diferentemente. É especialista na arte do fingimento, um desavergonhado, que age sem escrúpulos. Geralmente, o cínico é inteligente, hábil com as palavras, que são ditas sem significar aquilo que ele realmente pensa, mas são ditas como forma de iludir o outro. Mesmo porque as palavras, como disse Santo Agostinho, "são como vasos seletos e preciosos, corrompidas pelo vinho do erro que mestres ébrios nos dão a beber nelas". As palavras por si só são neutras, importa é o sentido que elas trazem (amor pode ser amor, amoroso, ou simplesmente sexo, dependerá do contexto). Mas não é só, caracteriza o cinismo inverter o raciocínio, colocar a fala na posição de quem está querendo o melhor do outro, quando, na verdade, está distorcendo suas verdadeiras ideias, iludindo, oprimindo e explorando o outro.

A interface com um cínico - capaz de fazer uma farsa parecer convincente a ponto de a verdade ser ineficiente - pode gerar a ira do interlocutor, que está com a razão, mas não consegue se contrapor à tese cínica. Aliás, o cínico, quando confrontado com o cinismo da sua fala, consegue levar o debate para questões secundárias, até mesmo desimportantes, criando um novo foco de discussão, embaralhando a questão focal. Isso tudo leva o interlocutor à confusão que resulta em ódio ao cínico - que não se abala -, que está apenas jogando com regras que outro não logra conhecer. Basta ver os acusados de corrupção, implacáveis ao negar as evidências.

Os ignorantes, por sua vez, desconhecem determinado assunto. Somos ignorantes em muitas coisas. Ser ignorante e reconhecer-se como tal, em determinado assunto, não tem o mesmo sentido usado rotineiramente aos que, desconhecendo determinado tema, ou conhecendo-o superficialmente, não se pejam em não aceitar a opinião alheia, que se arvoram em pensar que estão certos, que a sua própria opinião é a válida, que não aceitam poder estar errados e admitir que o outro possa estar certo. Esse tipo de ignorante é uma espécie de cínico, mas diferente do cínico, que é inteligente, defende premissas falsas, mesmo sabendo-as inverídicas. É um sofista. O ignorante normalmente não sabe que é ignorante. Não merece ser chamado de cínico, porque acredita no que fala, mas suas técnicas são as mesmas, quando o debate foge de seu controle, parte para discussões laterais para não enfrentar o nó da questão. Isso quando não parte para a agressão gratuita.

Os burros estão abaixo dos cínicos e ignorantes, são os indivíduos sem inteligência, imbecis, estúpidos, incapazes de fazer conexões inteligentes, têm dificuldade de raciocinar, associar ideias, de compreender metáforas. Com estes não é possível qualquer espécie de diálogo inteligente.

O cinismo, a ignorância e a burrice estão soltos. Muitas vezes não se nota, ao primeiro embate, alguém com as características de embrulhar um debate sério sobre qualquer coisa, fazendo a discussão deslizar para lugar nenhum. Mas se prestarmos atenção iremos concluir que, sob o risco de nos irritarmos, é recomendável não discutir com nenhum dos três.

Parece que estamos vivendo uma epidemia de cínicos, ignorantes e burros, que, graças às possibilidades de visibilidade da comunicação moderna, alguns conseguem alcançar notoriedade (positiva ou negativa).

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